O hiato de oito anos que separou os fãs de um trabalho inédito da ConeCrewDiretoria finalmente chegou ao fim. O lançamento do álbum “C.O.N.E (Caminhando Onde Ninguém Enxerga)”, cujo título carrega o peso da frase Caminhando Onde Ninguém Enxerga, não é apenas um registro fonográfico, mas o resgate de uma essência que moldou o hip hop brasileiro na última década. Com dezessete faixas que transitam entre a nostalgia e a vanguarda, o grupo prova que a conexão estabelecida nas pistas de skate permanece viva, agora maturada por vivências que transformaram meninos em pilares da cultura urbana.
A recepção do público não poderia ser diferente para um coletivo que ostenta números astronômicos mesmo em períodos de silêncio. Em poucos dias, o álbum ultrapassou a marca de cinco milhões de streams, evidenciando que a base de fãs construída com adesivos espalhados pelas cidades e rimas ácidas nunca os abandonou. A presença de Papatinho na produção garante a espinha dorsal do projeto, trazendo beats que flertam com o trap contemporâneo sem perder o balanço clássico que fez da Cone um fenômeno capaz de furar bolhas e conquistar desde o underground até os grandes festivais.
A maturidade lírica e as colaborações em “C.O.N.E (Caminhando Onde Ninguém Enxerga)”
Dentro da estrutura de “C.O.N.E (Caminhando Onde Ninguém Enxerga)”, percebemos um equilíbrio cirúrgico entre os cinco MCs. Ari, Batoré, Cert, Maomé e Rany Money entregam versos que refletem tanto o lifestyle descompromissado quanto críticas sociais contundentes. O álbum se destaca por reunir gerações distintas da música nacional em participações estratégicas. Ter nomes como Black Alien e De Leve dividindo o microfone com expoentes da nova escola, como Orochi e Major RD, demonstra o respeito que o grupo impõe na cena. É uma celebração da história do rap fluminense que consegue soar atual para os ouvintes que descobriram o gênero através do streaming.
A diversidade sonora apresentada nas 17 faixas revela um grupo que não teve medo de experimentar. Enquanto algumas canções resgatam o deboche característico que os tornou famosos, outras mergulham em reflexões mais profundas sobre o mercado e a trajetória artística. Essa dualidade é o que mantém o ouvinte engajado, fugindo da monotonia que muitas vezes assombra álbuns longos na era do consumo rápido de música. O álbum “C.O.N.E (Caminhando Onde Ninguém Enxerga)” funciona como uma crônica urbana, narrando a evolução de artistas que viram o rap deixar as margens para ocupar o centro das paradas de sucesso brasileiras.
Dadinho é o Crlh e a crítica à indústria cultural rápida
Um dos pontos altos do lançamento é o audiovisual da faixa foco, “Dadinho é o Crlh”, assinado pela Ganja Filmes. O clipe começa com uma introdução magistral de Seu Jorge, que aproveita o espaço para tecer duras críticas ao estado atual da indústria fonográfica. A fala de Seu Jorge sobre a produção de músicas descartáveis e puramente comerciais serve como o prefácio perfeito para o que a Cone Crew Diretoria se propõe a entregar: arte com substância. O vídeo é recheado de referências visuais e easter eggs que dialogam diretamente com a história do grupo, recompensando os fãs mais atentos que acompanharam a hashtag de espera durante quase uma década.
Essa provocação inicial de Seu Jorge define o tom de resistência que permeia o projeto. Em um mercado dominado por algoritmos e dancinhas, a Cone optou por um retorno robusto, focado na lírica e na qualidade técnica da produção de Papatinho. O impacto visual do clipe reforça a identidade urbana do grupo, mostrando que, embora o cenário tenha mudado drasticamente desde o último lançamento, a capacidade de ditar tendências e gerar discussões relevantes continua sendo uma marca registrada destes seis artistas.
O legado e a relevância da Cone Crew Diretoria na atualidade
Entender o fenômeno “Cone Crew Diretoria” exige olhar para o passado e reconhecer como eles pavimentaram o caminho para a geração atual. Desde a época em que vendiam CDs a um real na Lapa até o apadrinhamento por Snoop Dogg, o grupo sempre operou sob uma lógica de autogestão e conexão direta com as ruas. Esse retorno não é apenas sobre nostalgia; é sobre reafirmar um lugar de direito em uma indústria que eles ajudaram a construir. O sucesso imediato nas plataformas digitais é o reflexo de um trabalho que nunca perdeu sua verdade, mesmo diante das pressões comerciais de um mercado em constante transformação.
Com mais de um milhão e meio de ouvintes mensais, a Cone prova que sua relevância é atemporal. O novo álbum é um convite para que o público antigo se reencontre com seus ídolos e para que a nova geração entenda de onde vêm as raízes do som que dominam os charts hoje.
“C.O.N.E (Caminhando Onde Ninguém Enxerga)” é, em última análise, um manifesto de sobrevivência e maestria, consolidando a Cone Crew Diretoria como uma das entidades mais importantes e autênticas da história da música urbana brasileira.
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