O cenário do rap nacional está prestes a presenciar um dos diálogos musicais mais importantes da última década. Durante uma participação impactante no programa Conversa com Bial, o rapper Emicida confirmou o lançamento de seu novo projeto de estúdio: “Emicida Racional VL2 – Mesmas Cores & Mesmos Valores”.
Com data marcada para chegar às ruas e plataformas digitais no próximo dia 28 de novembro, o disco promete ser uma ponte ambiciosa entre o legado dos Racionais MC’s e a narrativa contemporânea do artista paulista.
A confirmação veio carregada de simbolismo. Emicida, que sempre tratou a obra de Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay como alicerce fundamental de sua carreira, agora propõe uma releitura conceitual do álbum Cores & Valores, lançado originalmente em 2014.
O projeto não é apenas uma homenagem, mas uma extensão estética e política daquele trabalho que, na época, dividiu opiniões e redefiniu a sonoridade do grupo mais influente do país.
O Rap como o primeiro cinema do mundo
Durante a entrevista com Pedro Bial, Emicida ofereceu uma visão profunda sobre o conceito que guia Emicida Racional VL2. Para o rapper, a música urbana desempenha um papel narrativo visual, quase documental. “Eu acredito que o rap é o primeiro cinema do mundo”, afirmou ele, reforçando que as faixas do novo disco foram desenhadas para criar imagens na mente de quem ouve.
Essa abordagem cinematográfica fica evidente na estrutura do álbum, que terá aproximadamente uma hora de duração. O projeto costura memórias íntimas com a grandiosidade da história do hip hop. Logo na abertura, o ouvinte será confrontado com registros de áudio de Dona Jacira, mãe do artista.
Segundo Emicida, foram feitos recortes de falas gravadas ao longo dos anos, transformando a sabedoria materna em fio condutor da narrativa. A presença da família não para por aí: versos interpretados por sua filha e citações ao pai e ao irmão na sétima faixa ampliam a dimensão pessoal do trabalho, provando que, para Emicida, a revolução começa dentro de casa.
Um mergulho em Mesmas Cores & Mesmos Valores
A escolha de revisitar especificamente o disco Cores & Valores é audaciosa. O álbum de 2014 dos Racionais marcou uma ruptura estética, apostando em faixas mais curtas, sintetizadores modernos e uma estética visual que flertava com a cultura pop e a moda de rua — elementos que a RAP MÍDIA cobre diariamente. Ao batizar seu projeto de Mesmas Cores & Mesmos Valores, Emicida sugere que, embora a estética mude, a essência da sobrevivência e da dignidade preta permanece inalterada.
O ponto alto da revelação foi a prévia da faixa “OS MEMO PRETO ZIKA”. A descrição da música apresentada no programa cita nominalmente todos os membros do Racionais MC’s. Embora ainda não tenha ficado claro se trata-se de uma colaboração inédita em estúdio ou de uma colagem de samples autorizados, a simples menção dos quatro gigantes na ficha técnica já torna a faixa um clássico instantâneo antes mesmo do lançamento.
Além disso, o disco traz uma reconstrução de músicas como “Finado Neguin”, indicando que Emicida vai operar como um curador de memórias, atualizando o discurso para o Brasil de 2025 sem perder o respeito pela “caminhada” original.
