No coração do Rio de Janeiro, onde o trap e o baile funk se entrelaçam como trilha sonora da juventude periférica, o nome de Oruam vem ganhando uma aura quase mítica.
Aos 24 anos, o rapper carioca é hoje um dos maiores fenômenos da música urbana brasileira, misturando beats agressivos com letras que oscilam entre dor, superação e provocação política.
Mas por trás do sucesso meteórico, está também uma figura polêmica, marcada por seu passado familiar, por confrontos com a lei e pela forma crua com que retrata a vida nas favelas.
Nascido Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, Oruam carrega um sobrenome de peso: é filho de Márcio Nepomuceno, conhecido como um dos chefes do crime organizado no Rio, preso desde 1996.
“Tem um projeto de lei com o meu nome, então eu sou realmente famoso. Vão lembrar de mim pra sempre”, diz Oruam, referindo-se ao controverso “Projeto Anti-Oruam”, que propõe cortar o financiamento público de shows de artistas acusados de fazer apologia ao crime.
O projeto foi impulsionado por políticos conservadores que veem nas músicas do rapper uma ameaça à ordem social, enquanto para milhares de jovens, ele é justamente o reflexo de uma realidade ignorada por esses mesmos legisladores.
Com seu cabelo vermelho vibrante, visual excêntrico e uma estética que mistura moda de luxo com referências de rua, Oruam não passa despercebido.
“Eu não posso ser artista e ser como todo mundo. Eu preciso ser original, preciso ser marcante”, afirma ele.
Seu visual marcante, inclusive, inspirou até crianças a tingirem os cabelos de vermelho em seus shows — muitos deles cantando com lágrimas nos olhos, versos que falam de dor, racismo, perda e sobrevivência.
Apesar da postura segura no palco e nas redes sociais, o rapper admite ainda lidar com a timidez.
“Eu ainda fico nervoso quando subo no palco, mas deixo esse sentimento de lado e vivo o momento”, confessa.
Sua primeira vez em frente a uma plateia foi em 2017, durante o lançamento do livro de seu pai, Verdades e Posições, escrito da prisão.
Escrevi um poema pro meu pai e ele me pediu pra recitar. Quando desci do palco, as pessoas queriam tirar foto comigo.
Foi também a partir dessa sensibilidade poética que sua mãe, Márcia, o incentivou a seguir na escrita e na música. Ela foi presa em 2010, mas ficou menos de um ano detida.
“Minha mãe me fez ser quem eu sou. Quando mostrei meus primeiros poemas pra ela, todo mundo que lia chorava. Se você causa esse tipo de reação, isso é arte”, afirma.
O início na música veio em 2021, quando foi chamado para gravar com Jhowzin, Raffé e Chefin — esse último, inclusive, amigo dos tempos de escola.
A faixa “Invejoso” se tornou viral rapidamente, com mais de 190 milhões de visualizações no YouTube. O sucesso chamou a atenção da gravadora Mainstreet, liderada por Orochi, e em pouco tempo Oruam já estava entre os nomes mais promissores do trap carioca.
Com a Mainstreet, lançou o single “Terra Prometida”, onde canta: “Os que confiam no Senhor são como o monte de Sião”. A letra, retirada diretamente da Bíblia, revela sua base evangélica — uma fé que compartilha com sua irmã Débora, cantora gospel com meio milhão de seguidores no Instagram.
Mesmo com a carreira em ascensão, Oruam buscou estudar psicologia antes da fama. “Queria entender minha mente”, diz ele com um sorriso. A decisão parece ter ajudado a dar profundidade a suas letras, que, mesmo em meio a temas de festa e ostentação, não deixam de carregar uma camada de tristeza e crítica social. “Gosto de cantar sobre tristeza. Como artista, a gente precisa chegar num conceito, e tristeza é um conceito.”
Recentemente, Oruam lançou o álbum Liberdade, no dia seguinte a uma prisão por manobras ilegais com seu carro. A capa traz o rapper e sua família com camisetas estampadas com a imagem de seu pai. Na faixa “Lei Anti O.R.U.A.M”, ele protesta: “Eles nos dão armas, depois perguntam por que somos fora da lei”.
Mesmo com os holofotes, Oruam segue conectado às raízes. Criado entre o funk proibidão e os becos da favela, ele se tornou símbolo de uma geração que encontra na arte a força para resistir e contar sua própria história.
E quando questionado sobre o impacto que tem nas ruas, ele reflete:
É como se eu tivesse que ser um herói… quer dizer… um anti-herói.
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