Torya explora a dualidade entre orgulho e resiliência na mixtape ALTIVA

A data de 20 de novembro carrega um peso histórico imensurável no Brasil, simbolizando a luta e a resistência do povo preto. Não é coincidência que a rapper Torya tenha escolhido exatamente o Dia da Consciência Negra para apresentar ao mundo seu mais novo corpo de trabalho. A mixtape ALTIVA chega às plataformas de streaming carregando não apenas rimas afiadas, mas um conceito profundo que questiona as fronteiras entre a arrogância e a nobreza de espírito, consolidando o nome da artista como uma das canetas mais promissoras da Zona Norte de São Paulo para o cenário nacional.

Composto por sete faixas, sendo seis delas inéditas, o projeto é um mergulho na complexidade da identidade da mulher negra no rap. Se o dicionário define altivez muitas vezes como soberba, Torya ressignifica o termo através de suas vivências. Para ela, ser altiva é sobre postura. É o ato político e pessoal de manter a cabeça erguida mesmo quando as estruturas ao redor tentam derrubá-la. O lançamento marca um rito de passagem para a cantora, que celebra seu aniversário no mesmo mês, transformando novembro em um período de encerramento de ciclos e renovação de energias criativas.

Uma sonoridade que conecta o clássico ao contemporâneo

Musicalmente, ALTIVA se destaca por não cair na armadilha de seguir tendências passageiras sem propósito. A mixtape constrói uma ponte sólida entre as raízes do hip hop e a estética moderna. A base sonora é fortemente influenciada pelo Boom Bap, trazendo aquela sujeira característica e os loops que agradam os puristas do gênero, mas tudo é entregue com uma roupagem atualizada. Há espaço até para experimentações com elementos de afrobeats, demonstrando a versatilidade de Torya em navegar por diferentes vertentes da música negra sem perder sua essência lírica.

A própria artista define essa estética como algo que funciona tanto para os ouvintes da velha guarda quanto para a nova geração que consome o trap e o grime. Essa curadoria sonora cria uma cama perfeita para que as reflexões sobre autoconsciência, caos interno e superação sejam absorvidas pelo ouvinte. Não é apenas sobre batidas pesadas; é sobre criar uma atmosfera onde cada verso soa como um desabafo necessário e, ao mesmo tempo, como uma afirmação de poder.

Colaborações estratégicas e produção refinada

Para dar vida a esse conceito, Torya não caminhou sozinha. O projeto conta com participações que dialogam perfeitamente com a proposta da mixtape. Nomes como Sotam, Ciça e o lírico Amiri somam forças nas faixas, trazendo diferentes texturas e fluxos que enriquecem a narrativa do álbum. A faixa “Veneno”, com a participação de Amiri, e “Granada”, com Ciça, são exemplos de como essas conexões foram bem arquitetadas para potencializar a mensagem de cada música, fugindo do formato de “feat por números” e entregando colaborações orgânicas.

A produção musical também merece destaque, com nomes como Rob, Matheus Muniz, Leonok, Isackwav e Lywie assinando os instrumentais. A engenharia de som garante que faixas como a já conhecida “Ultron” — que figurou na lista de melhores lançamentos do Spotify — e as inéditas “Rosé”, “Quantos” e “Takis” soem coesas, criando uma experiência auditiva linear e envolvente do início ao fim.

O grande momento de Torya na cena urbana

O lançamento de ALTIVA coroa um período de ascensão meteórica e reconhecimento profissional para Torya. O ano tem sido generoso com a artista, que recebeu uma indicação ao Prêmio BTG Pactual da Música Brasileira nas categorias de Artista e Lançamento de Funk, mostrando que sua arte transcende nichos. Além do reconhecimento da crítica e das plataformas de streaming, a rapper se prepara para levar a energia da nova mixtape para os palcos.

A estreia ao vivo desse novo repertório tem lugar e hora marcados: o palco do festival “Cena 2K“, que acontece em São Paulo. Essa apresentação simboliza a materialização de todo o trabalho de estúdio, colocando Torya frente a frente com seu público em um dos eventos mais importantes da cultura urbana atual.

ALTIVA não é apenas um conjunto de músicas, mas o manifesto de uma artista que aprendeu a transformar suas cicatrizes em versos e sua postura em arte, provando que a verdadeira altivez é a coragem de ser inteira em um mundo que tenta nos fragmentar.

NARDONI

NARDONI

Carioca que não gosta de praia, apreciador de café e água com gáix, criador da RAP MÍDIA.

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