A edição de 2025 do festival CENA, um dos eventos mais aguardados do calendário da cultura urbana brasileira, transformou a expectativa de milhares de fãs em uma experiência marcada pela frustração. O que deveria ser uma celebração da potência do trap e do rap mundial tornou-se, nas últimas horas, um cenário de incertezas com a confirmação de que os headliners Young Thug e A$AP Ferg não pisarão no palco.
A notícia caiu como uma bomba para o público que lotou as redes sociais e frustrando espectadores que já estavam no local do evento, exigindo explicações sobre a ausência das principais atrações internacionais que motivaram a compra dos ingressos.
Não foram apenas os grandes nomes globais que desfalcaram o line-up. A curadoria, que prometia valorizar o cenário underground e as novas vertentes do trap, sofreu baixas significativas. Artistas como Lil Gotti, Oodaredevil, Zukenee e Ryu também tiveram suas performances canceladas, criando buracos na programação que a organização não conseguiu preencher à altura.
A justificativa oficial, divulgada em um comunicado sucinto, atribuiu as baixas a uma série de “fatores internos e externos”, uma explicação vaga que pouco serviu para acalmar os ânimos de quem investiu tempo e dinheiro para estar presente.
CENA 2K25: Desorganização técnica e o desrespeito com os artistas nacionais
Para além dos cancelamentos, quem esteve presente no CENA 2K25 relatou um ambiente de desorganização que afetou diretamente a qualidade artística do festival. O problema não se limitou à ausência de atrações, mas se estendeu ao tratamento dado aos artistas que mantiveram seus compromissos. Relatos de bastidores apontam para camarins incompletos, falta de informações básicas para as equipes e horários completamente desencontrados, o que gerou um efeito cascata na grade de shows.
A situação atingiu níveis críticos durante as apresentações que efetivamente ocorreram. Diversos artistas tiveram seus shows comprometidos por falhas técnicas e ou de organização, Ryu The Runner, um dos grandes nomes da cena, informou que seu show foi cancelado sem motivos e que só foi avisado, quando já estava no local do evento.
Alee, uma das grandes apostas da Nadamal neste ano, teve seu microfone cortado durante sua apresentação no primeiro dia de festival. No episódio, o publico presente vaiou o evento e continuou o show do artista cantando a capela com ele.
Esse cenário de precariedade técnica expôs uma fragilidade logística que não condiz com o porte que o festival CENA ostenta no mercado. A sensação de desamparo foi compartilhada tanto pelos músicos, que se viram impedidos de entregar o show planejado, quanto pela plateia, que assistiu a sets incompletos e confusos.
A revolta do público e o impacto na marca do festival
A reação do público foi imediata e intensa. Nas redes sociais, a hashtag do evento foi dominada por relatos de decepção, mas foi in loco que o descontentamento se tornou palpável. Em diversos momentos, coros de xingamentos direcionados à organização ecoaram pela arena, evidenciando a quebra de confiança entre o festival e seu público-alvo. A cultura de rua preza pela lealdade e pela entrega real, e a percepção geral é de que o evento falhou em honrar o compromisso assumido com os fãs do eventos e de diversos artistas.
Em nota oficial, o CENA tentou minimizar os danos reforçando que, apesar das baixas, o line-up permaneceria sólido devido à presença massiva dos artistas brasileiros. O comunicado tentou direcionar o foco para a força do trap nacional, que segue mobilizando multidões, mas a estratégia soou para muitos como uma tentativa de contenção de danos diante de uma crise estrutural.



O argumento de que o evento segue comprometido em trazer os artistas cancelados em um futuro próximo foi recebido com ceticismo, visto que a credibilidade da marca sofreu um arranhão profundo nesta edição.
O saldo do CENA 2K25 deixa lições amargas para o mercado de festivais de rap no Brasil. A dependência de grandes nomes internacionais sem uma estrutura logística impecável e um plano de contingência robusto provou ser uma aposta arriscada. Resta agora saber como a organização lidará com as demandas de reembolso e qual será o plano de reestruturação para tentar reconquistar a confiança do público para próximas edições.

